Será que a crise hídrica é causada só pela falta de chuva?
Em primeiro lugar, é preciso entender que diversos fatores têm influencia sobre as estiagens. O que podemos adiantar é que, diferente do que disse a então ministra da Agricultura, Tereza Cristina, a culpa não é de São Pedro.
Por outro lado, se a falta de chuva não é a culpada, quem são os responsáveis pelas estiagens que vêm acontecendo todos os anos? Neste conteúdo, mostraremos quatro verdades amargas que a grande mídia não faz questão que você saiba. Por isso, continue lendo e descubra tudo!
O que é crise hídrica?
Antes de falarmos sobre as verdades que são escondidas da sociedade, precisamos elucidar o conceito de crise hídrica. Basicamente, ela ocorre quando não existe quantidade suficiente de água potável disponível para satisfazer as necessidades de uma região.
Em outras palavras, esse termo refere-se a um período em que há problemas de abastecimento de água para consumo humano, prejudicando a saúde e a qualidade de vida da população. Mas não se engane, a falta desse recurso natural poderia ser evitada pelo ser humano. E é sobre isso que falaremos agora.
De quem é a culpa pela crise hídrica?
Antes de tudo, nós já adiantamos que o ser humano é um grande responsável pelo desabastecimento de água, certo? Mas se você considerar que em 2021 o Brasil passou pela maior crise hídrica dos últimos 91 anos, é curioso imaginar o motivo desse problema ter se intensificado.
Entretanto, se você ler os quatro itens a seguir, vai saber exatamente essa resposta!
1º culpado: modelo de produção
Cada vez mais, o Brasil vem investindo e favorecendo os grandes latifúndios de monoculturas que não consideram questões ambientais. Ou seja, esses modelos de produção estão longe de ser sustentáveis.
Na verdade, são “meia dúzia” de grandes corporações globais ditando as regras do mercado, beneficiando poucos e sujeitando o Brasil e a nossa agricultura à essa dominação.
Jandir Selzler, coordenador da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar, a FETRAF-SC, avalia que “é preciso romper essa submissão e fomentar modelos sustentáveis de produção, privilegiando a diversidade da Agricultura Familiar.”.
Desta forma, é certo dizer que o atual modelo de produção esgota nossos recursos naturais. Por conta disso, é preciso investir em produção diversificada de alimentos, favorecendo a agroecologia e a produção sustentável.
2º culpado: falta de planejamento
Isso é fato: os governos não costumam considerar as variáveis climáticas quando planejam as políticas públicas de abastecimento. O resultado? Frequentemente o Brasil é “pego de surpresa” pela estiagem.
Por outro lado, a FETRAF-SC considera inaceitável que os gestores públicos não façam planejamento considerando os fenômenos climáticos. Pior que isso, além de não planejarem, todos os anos oferecem medidas emergenciais apenas paliativas, que ficam muito aquém de cobrir todos os prejuízos.
Para se ter uma ideia, no Sul, as perdas com a última estiagem chegam na casa do R$ 168 bilhões. “O que nós precisamos é de políticas públicas proativas e de convivência com fenômenos climáticos”, avalia a Federação.
3º culpado: o avanço da fronteira agrícola
Segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), as maiores tendências de aquecimento e seca acontecem nas regiões da fronteira agrícola, na Amazônia oriental e no Cerrado. Mas o que isso tem a ver com a crise hídrica no Sul?
Bem, o desmatamento causa superaquecimento e atrasa a estação chuvosa, prejudicando a vasão de rios, como o Rio Paraguai. Nesse sentido, os rios voadores, que são responsáveis por transportar a umidade do Norte para o Sul do país, são afetados diretamente.
Além disso, em seu site, o Cemaden alerta que “as mudanças do uso da terra para a expansão do agronegócio, juntamente com as mudanças climáticas, induziram um agravamento das severas condições de seca durante a última década nesta região.”.
4º culpado: consumo de água do setor agrícola
Lembra que no início deste capítulo questionamos os motivos para a intensificação da crise hídrica no Brasil? Então, veja esse dado levantado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada):
A balança comercial do agronegócio brasileiro fechou 2021 com saldo de US$ 105,1 bilhões, 19,8% acima do verificado em 2020.
Significa dizer que, à medida que o agronegócio cresce, a crise hídrica se intensifica. Da mesma forma, veja outro dado, desta vez levantado pela ONU: 72% da água que consumimos no Brasil é usada para a pecuária em larga escala e para produção de commodities, como milho e soja.
Ou seja, para cada quilo de soja produzido, é gasto uma média 2 mil litros de água, segundo o WaterFootprint. Portanto, o agronegócio é, de longe, o maior responsável pelo consumo de água no Brasil.
E olha que nem mencionamos a poluição da água causada pelo excesso de agrotóxicos e lixo químico que o agronegócio gera.
Como evitar a crise hídrica?
Você já entendeu que não adianta rezar para chover, nem ameaçar puxar a orelha de São Pedro, como fez a então ministra da Agricultura, Tereza Cristina, certo?
Conhecendo os verdadeiros culpados, não fica difícil perceber que todas essas informações são sonegadas pelas mídias tradicionais. E isso acontece porque elas são patrocinadas para convencer você de que o “agro é pop”.
Mas a verdade é que precisamos quebrar esse paradigma de produção que esgota nossos recursos naturais, contaminando o solo, a água e o ar. E essa é uma das grandes bandeiras que a FETRAF Santa Catarina levanta.
Nesse sentido, a Federação tem vários projetos e ações com a Agricultura Familiar que propõem um novo olhar sobre a produção, incentivando a agroecologia e a sustentabilidade. O mais recente pretende levar a transição agroecológica para mais de 500 famílias catarinenses. Conheça o Projeto “Terra Solidária: Ater de Transição Agroecológica”.