Quando se fala em Agricultura Familiar e Agronegócio, o que não falta é confusão sobre os conceitos. De um lado, é conveniente que grandes setores da economia e do agro tenham interesse em manter a falácia da equivalência. Mas é importante que você saiba que os dois modelos não apenas são diferentes, mas incompatíveis e até opostos entre si.
Portanto, se você ainda acredita que a Agricultura Familiar é parte do Agronegócio, veja aqui 3 diferenças fundamentais que mudarão a sua visão. Continue lendo e descubra tudo!
Agricultura Familiar e Agronegócio: o que são
Antes de entender as diferenças fundamentais entre Agricultura Familiar e Agronegócio, é preciso compreender como esses modelos funcionam.
De um lado, a Agricultura Familiar representa o cultivo da terra realizado por famílias de agricultores e agricultoras. Tem como mão de obra, essencialmente, o núcleo familiar, sempre priorizando a diversidade da produção, repassando conhecimentos entre as gerações. Seu foco é na produção de alimentos.
Por outro lado, em termos gerais, o Agronegócio, conhecido como “agro”, se refere à produção agropecuária em larga escala. É caracterizado pela produção de apenas uma cultura em grandes propriedades de terra, por isso, concentra o lucro em poucas mãos. Seu foco é na produção de mercadorias para o mercado internacional.
Agora, vamos entender na prática 3 diferenças fundamentais entre esses dois modelos. Veja a seguir!
1ª diferença: equilíbrio x descontrole
Existem contradições importantes entre a Agricultura Familiar e o Agronegócio, inclusive, quando se fala em meio ambiente e ecossistema.
Trabalhadores e trabalhadoras da nossa agricultura focam na produção de diversas culturas em extensões territoriais pequenas: a chamada policultura. Como não há necessidade de desmatar, por essência nossa Agricultura Familiar preserva rios, solo, flora e fauna, sem esquecer de proteger os insetos polinizadores.
Além disso, essas famílias protagonizam um movimento crescente de transição para a Agroecologia, sendo as responsáveis por produzir alimentos saudáveis para o povo.
Éder Tochetto, agricultor familiar de Seara-SC e coordenador de Juventude da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar de Santa Catarina (FETRAF-SC), lembra ainda que o trabalho no campo é desenvolvido em regime de economia familiar.
Segundo ele, “os membros do grupo familiar atuam de forma conjunta, dialogam, constroem e tomam decisões juntos, e isso mantém as tradições, a cultura e a identidade da Agricultura Familiar”
Por outro lado, o Agronegócio contrapõe o modelo familiar de produção. Isso porque esse modelo trabalha com monoculturas em imensos latifúndios, desmatando florestas, empobrecendo o solo e utilizando altas e crescentes quantidades de agrotóxicos.
Fora isso, o Agrogenócio consome água e energia em excesso, trazendo problemas de natureza ambiental, econômica e social.
2ª diferença: justiça social x concentração de renda
Em primeiro lugar, é importante destacar uma característica essencial da Agricultura Familiar: em poucos hectares, é possível manter produtivas dezenas de famílias de trabalhadores do campo.
Em outras palavras, esse modo de produção garante a sobrevivência e autonomia de mais de 5 milhões de famílias agricultoras do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, a Agricultura Familiar gera mais de 10 milhões de empregos, segundo o Censo Agropecuário de 2017.
Para você entender melhor, a capacidade de trabalhadores do campo de gerar renda em uma pequena propriedade é proporcionalmente maior à rentabilidade de qualquer grande fazenda.
A Agricultura Familiar incentiva a economia solidária e gera mais de 70% dos empregos no campo; número que sobe para 90% em municípios de pequeno porte, segundo o IBGE.
E o agro, não gera emprego?
O Agronegócio trabalha com plantio e colheita mecanizados, reduzindo a demanda de contratações. Também, para uma monocultura ser lucrativa, um único proprietário necessita de uma grande extensão de terra, o que concentra grandes propriedades em poucas mãos.
Além disso, por conta de todos os incentivos fiscais e isenções, o agro gera poucas receitas tributárias aos municípios e estados.
Ainda que a agroindústria seja responsável pelo emprego de operários em seus frigoríficos, com fases nas cadeias de produção que exigem intervenção humana, na prática, o Agronegócio explora mão de obra barata e adoece o trabalhador. Clique para assistir o documentário Carne e Osso:
3ª diferença: alimento X commodities
Já se perguntou por que a fome aumenta no Brasil, mesmo com números recordes no Agronegócio?
A resposta não é difícil: 70% dos alimentos que o Brasil consome vêm da Agricultura Familiar. É por isso que agricultoras e agricultores familiares são grandes protagonistas da soberania e segurança alimentar do nosso país.
Entretanto, diversos programas como Pronaf, PNAE e PAA sofreram diversos cortes nos últimos anos. Ou seja, sem incentivos, com a produção mais cara e enfrentando estiagens recorrentes, esses trabalhadores não conseguem manter a produção.
O resultado é a escassez de comida de verdade e o preço alto dos alimentos disponíveis. Junte isso ao aumento do desemprego e à queda da renda do povo, e eis o motivo do avanço da fome no país.
Agro não produz comida?
Não! Na contramão da produção familiar, o Agronegócio não produz alimento para a nossa população, e sim commodity: em tradução livre, “mercadoria”. É um modelo que foca na exportação de produtos como soja e milho, e é dominado por grandes grupos transnacionais que determinam os preços, como e onde produzir.
Portanto, o agro depende exclusivamente da regulação do mercado externo. Isso significa que suas estratégias de comercialização ignoram os interesses do nosso país, nossa soberania e segurança alimentar. O resultado não poderia ser outro: desigualdade, degradação ambiental e pobreza.
Agora que você entendeu essas três diferenças importantes entre Agricultura Familiar e Agronegócio, o que acha de conhecer as propostas de políticas públicas para incentivar a Agroecologia em Santa Catarina? Clique aqui.