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Trabalhadores escravizados são resgatados em plantação de cebola em Ituporanga

Seduzidos por promessas de altos salários, garantia de moradia e alimentação, nordestinos estão sendo trazidos para Santa Catarina e usados como mão de obra escrava na colheita de cebola, no Alto Vale do Itajaí.

Somente no início de agosto três denúncias ganharam repercussão nacional e 36 homens foram resgatados trabalhando em situação de escravidão na cidade de Ituporanga. Morando em casas improvisadas, vivendo em condições insalubres, sem água potável, sem colchões para dormir e tendo suas despesas de alimentação e transporte descontados dos salários.

O primeiro caso chegou às autoridades policiais no dia 30/7 depois que um dos trabalhadores estava com sintomas do covid-19. Ele passou mal e seus colegas chamaram o SAMU para atendimento. Ao chegar no local a equipe de saúde percebeu as condições e comunicou à Polícia Militar. Antes das autoridades chegarem já encontraram os homens que estavam na casa, caminhando na beira da estrada em busca de ajuda na cidade. O grupo é de origem do município de Marco, no Ceará e já foram enviados para o estado cearense.  

O segundo caso aconteceu dia 5/8 e envolveu nove pessoas da cidade de Timbiras no Maranhão. Eles foram aliciados através de um anúncio de carro de som que percorreu as ruas da cidade maranhense, prometendo trabalho por três meses, a troco de um salário bom e todas as despesas pagas. Pagaram 50 reais ao aliciador e viajaram em um ônibus clandestino até Ituporanga. Foram recepcionados por um dos empregadores que na chegada do ônibus pediu “os meus dez que comprei”.

O caso foi descoberto com a denúncia da mãe de um dos trabalhadores que procurou auxílio na Rede de Ação Integrada de Combate à Escravidão (Raice) lá no Maranhão, que fez contato com as autoridades de Santa Catarina e a Polícia Militar fez o resgate.

Já o terceiro caso aconteceu dia 8/8 em que mais nove trabalhadores foram resgatados, também em uma fazenda de plantação de cebola em Ituporanga. Os homens também eram de origem da cidade de Timbira e foram resgatados depois de uma operação do Ministério Público do Trabalho de Santa Catarina (MPT-SC).

As operações obrigaram os responsáveis a pagar os salários e direitos trabalhistas através de um Termo de Ajuste e Conduta (TAC), bem como pagamento de indenização por danos morais. O casos seguem sendo investigado pela Polícia Federal e pode gerar pena de dois a oito anos.

Marcos Rozar, Secretário Geral e de Comunicação da FETRAF-SC, explica que esta prática é frequentemente usada pelos grandes produtores que exploram a situação de vulnerabilidade dos trabalhadores e os expõe a condições insalubres de trabalho e de vida. “Pessoas, em sua maioria do nordeste, são atraídas por falsas promessas e quando chegam aqui nem roupa de frio tem para suportar as baixas temperaturas. Ficam amontoados, vivendo sem estrutura, mas também sem condições financeiras de retorno para suas cidades”, comenta Rozar.

A situação de escravidão é realidade ao povo negro – O professor Marcos Rodrigues da Silva, pesquisador do Núcleo de Estudo Afro-Brasileiros da UDESC reflete que a situação de escravidão e exploração é uma realidade vivida pelo povo negro. Os homens escravizados em terras catarinenses representam este ciclo histórico de violência estrutural em que negros e negras são submetidos no país. “Desde 1850, quando foi criada a Lei da Terra, ela veio com o intuito de nos impedir e nos desqualificar para que tivéssemos direito do acesso à terra. Submetendo os negros, mesmo libertos em 1888, a não serem nada a não ser voltarem a serem escravos de seus senhores, e é esse o ciclo que a gente vê em nossa região com a exploração da mão de obra de homens negros nordestinos”, explica o professor.

Rodrigues ressalta que os homens trazidos para trabalhar nas plantações de cebolas, não são homens que estão na “vadiagem” em suas cidades, mas são em sua maioria jovens que estão na busca do sonho de renda própria para sustentarem suas famílias. De acordo com o pesquisador, depois do golpe contra a presidenta Dilma em 2016, nenhuma política pública tem sido feita para gerar uma outra perspectiva de vida para o povo negro, especialmente os nordestinos.

Para Rodrigues é necessário uma sensibilidade e realização de lutas efetivas dos órgãos da justiça e movimentos sociais para romper este ciclo histórico de exploração da mão de obra negra. “Esses capitães do mato, liderados por fazendeiros que escravizam o povo negro precisam ser penalizados e os movimentos sociais precisam ser sensíveis e estar junto com o povo, para lutar contra esta desumanidade”.

Matéria: Sílvia Medeiros/Jornalista FETRAF/SC com informações do portal de notícias NSC, Portal Expresso e coluna do Leonardo Sakamoto no UOL

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