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Quando o jovem não decide, alguém vai decidir

quem é a agricultura familiar de sc

Neste dia 12 de agosto, em que é celebrado do Dia Internacional da Juventude, compartilhamos a reflexão do pesquisador e assessor da FETRAF/SC, Neuri Alves.

Como caminhante deste tempo inebriante, histórico, conjuntural, estrutural e excludente que submetido estou. Plateia de milhões a contemplar em resistência ou impotente silêncio o desmantelamento dos Estados de Bem-Estar social e a ofensiva das políticas neoliberais em todo ocidente, preocupa-me falar em futuro, de modo particular às novas gerações, aos nossos jovens. Mas é imperioso, inadiável pautar com urgência o debate desta categoria social chamada ‘juventude’. Embora às questões inevitáveis de por onde ou como começar sejam algo que provoque medo, insegurança, dúvida e uma inevitavelmente dose de incertezas, é fundamental brindarmos com isso uma dose de ternura, resiliência e responsabilidade – é preciso falar.

Digo isso por uma simples razão: sempre que convidado para falar sobre juventude me vejo tomado por uma mescla de ousadia e temeridade. Ousadia, porque falar de juventude é preciso ampliar horizontes, espiar no retrovisor do tempo, sem esquecer do sentir-se jovem ou não – explico: há muita gente na tenra idade com espírito envelhecido, desanimador ou infantilizado, e neste ‘interim’ as crises de identidade. Temeridade, porque estarei tateando em sonhos, alegrias, felicidades vividas e esperançadas, decisões transbordantes de certezas por um dado momento e contaminadas por incertezas no instante seguinte. Ser jovem, não é mero desafio, é o próprio desafio encarnado, colocado aos que não depositam na idade a culpa de possíveis tropeços em virtude do clichê da pouca maturidade, mas aos que apostam no arriscar-se a mais-valia (lucro) do vencer no campo ou na cidade.

A felicidade não depende dos acertos que fazemos na vida, mas na capacidade de experimentar os desafios que nos foram dados como soldo da vida diária, ou por nós assumidos. Como caminho para a realização de nossos sonhos. E sonhar não é pouco, sonhar é riqueza dos que fazem da pequena possibilidade o resultado da grande ousadia, fazendo da temeridade apenas degrau para alcançar objetivos bem delineados. Este desafio não é uma peculiaridade aos jovens do campo, ou tão somente da cidade, é próprio da juventude. Como posso vislumbrar a vida no campo sendo a grande oportunidade de minha existência? – Extraindo desta, realizações traçadas com objetividade, visão de horizontes e sem falsas ilusões.

Não cabe mais tão somente aos pais, seja ele agricultor familiar ou operário dizer aos seus filhos para que estudem pensando numa espécie de futuro ‘mamão com açúcar’, livre das grandes dificuldades e sofrimentos por eles já enfrentados ao longo da vida. Pois, este sair para estudar, embora fundamental, importante na formação e acúmulos dos sujeitos, não é mais garantia de melhores condições ou a salvação dos desafios e experiências de sofrimentos vivenciadas por gerações como de nossos pais. – Os tempos são outros, exigindo olhar com amplitude, o que hoje se chama de glocalização (o global sem esquecer o local). Pensar para além do que já conhecemos sem esquecer onde morarmos, vivemos e o que queremos. Pois, no ampliar de horizontes, pode não mais morar as esperanças concretas de realizações e garantias de outrora, enquanto na experiência local, (vida no campo) pode estar a oportunidade de garantias e realizações que outrora se apontava para a saída – a exemplo: a vida na cidade.

A geração atual, se por um lado é a beneficiaria direta de todo desenvolvimento tecnológico, de outro, é a potencial vítima do processo de exclusão. A revolução industrial 4.0 (ou revolução tecnológica) em fase de aperfeiçoamento e implementação, acena para a fase mais aguda e cruel de exclusão das oportunidades de trabalho no mundo urbano (e porque não dizer, no rural também). E não tem a ver com falta de qualificação, tem sim, a ver com oportunidade. Estudos apontam, que num curto espaço de tempo, mais da metade das profissões no planeta devem deixar de existir. Do professor que trabalha em sala de aula ao agrônomo que reduziu sua função a vender pacotes tecnológicos com agrotóxicos e sementes transgênicas; Do quase ‘extinto’ servente de pedreiro, aos engenheiros da construção civil ou mecânica; Do médico especialista a enfermeira instrumentista do hospital; Do operário das fábricas ao agricultor focado na produção convencional. – Tendem desaparecer porque máquinas automatizadas e computadores já fazem ou vão fazer estas funções. Éo tipo de cenário que não comporta mais comodismo, improvisos, riscos desnecessários e aventuras com fracassos previstos. É preciso repensar nossas concepções de mundo trazendo a reflexão questões inadiáveis do tipo: É mais seguro deixar a propriedade rural em busca de oportunidade no incerto, ou pensar a permanência na agricultura familiar sendo um diferencial de produção e espaço no mercado? – Pensar não dói, mas pode doer se achar que a razão infalível do sucesso se encontra nas receitas prontas de vida, vendidas pela lógica da exploração, ilusão e falso empoderamento urbano.

Antes de findar, reitero a importância do formar-se na escola, em curso técnico ou graduação, mas reafirmo: o jovem hoje vive o grande paradoxo de possuir formação educacional muito mais ampla que as gerações anteriores, no entanto, seus diplomas não são garantias de sucesso profissional, laboral, valorização profissional e no todo, o mais sonhado retorno financeiro. O jovem tornou-se uma possibilidade de espaço no mundo do trabalho, onde inicia com desvantagem, baixa oportunidade e reduzidas chances de sucesso ao trata-se de fazer o mais do mesmo no mundo dos serviços. Porque digo isso? – Porque é preciso dizer a juventude do meio rural (embora todos os desafios enfrentados), que no comparativo de cenários e previsões atuais, ela sai na frente. Tem a oportunidade de pensar o trabalho na terra com o olhar diferente, aperfeiçoar e inovar seu espaço na produção obtendo renda justa, vida melhor e permanência. Mas que a sucessão na propriedade não esteja condicionada a gênero, acesso de máquinas de última geração, pacotes tecnológicos de grandes multinacionais, caindo no lacismo da falsa emancipação, pois aí mora a armadilha do endividamento e da exclusão.

A juventude rural na pequena propriedade precisa fazer uma nova revolução, não aos moldes da ‘Revolução Verde’, mas ‘Revitalizar o Espaço e a Vida no campo’ e isto não se dá pelo viés tecnológico do grande agronegócio. Será sim, pela reconquista da liberdade, do espaço no rural, do tempo que lhes foi expropriado, de um reocupar/reconquistar a propriedade, pela capacidade de gestão diferenciada e agregar justo valor as horas trabalhadas. Se dará pelo rompimento dominante das falácias que cerca a simbiose produção/lucro, que contaminam e contagiam a vida no campo gerando exclusões pouco percebidas – como a despedida dos jovens para o futuro incerto na vida urbana.

Se a propriedade é sua mas você não pode criar frangos comuns em seu quintal ela não é sua; se a propriedade lhes pertence mais você não pode criar um suíno de genética comum, ela não é sua. Se você não pode diversificar seu pomar de frutas, este pomar não lhes pertence. Se você não tem mais tempo para a vida familiar, comunitária, social você não é mais um agricultor, tornou-se engrenagem. Se os pais não empoderam o filho/filha para a permanência eles vão embora. Por fim, se o jovem não acreditar no futuro, lhes expropriaram também seu Ser, e a peculiaridade rebelde da juventude para inovar. Mais do que uma fase da vida, uma sociológica categoria social, ou, um sentir-se como tal, jovem é tudo aquilo que à experiência dos outros não vivenciaram, porque ele é único, é vir-a-ser, potência e diferencial. Mas não posso decidir pelos jovens, no máximo provocar os pais tentando dizer o que pode ser melhor ou menos arriscado neste momento. Porém, cabe ao jovem o poder de tomar decisões, pois não decidir, também representa uma decisão – e pode ser triste, quando a decisão não for da vontade própria, mas de condicionante imposição!

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