Muitos esperavam que Lula fosse eleito presidente no primeiro turno das eleições brasileiras. Ele não atingiu os 50% esperados e Bolsonaro alcançou mais de 40%, mais do que o previsto nas pesquisas de opinião. – Ficou para o segundo turno: dia 30 de outubro.
O resultado surpreendeu e não surpreende. O que aconteceu em 2018 (e agora) está na tradição fascista da década de 1930. Naqueles anos, o Brasil gostava muito de Hitler e da Alemanha. Até mesmo muitos padres estavam nesse movimento. Desde então, isso permaneceu uma tendência na sociedade brasileira. As raízes são ainda mais profundas: desde a fundação da república no final do século 19, a bandeira dizia ‘Ordem e Progresso’, ‘Ordem e progresso’, embora o Messias tenha tornado 2019 um caos.
O presidente Bolsonaro, por todas as suas mentiras, corrupção e contradições, é mantido por três poderes: o agronegócio, os militares e as igrejas pentecostais. Essas igrejas foram importadas dos Estados Unidos na década de 1970 para frustrar a emergente teologia da libertação. Eles opõem a teologia da libertação à ‘teologia da prosperidade’ (= dinheiro), embora muitos pobres sejam batizados, convertidos seguidores dessas igrejas bizarras.
Bolsonaro idealiza a ditadura militar de 1964 a 1985 e chega a glorificar a tortura ocorrida naquela época. O exército também entrou pela porta da frente há quatro anos: 3.000 soldados estão nas administrações e mais generais foram nomeados como ministros do que no início da ditadura. Os próprios militares são uma das poucas profissões que recentemente receberam generoso aumento salarial. Então eles escolhem seu guru. O agronegócio está entrelaçado em toda a sociedade e tem grande poder, principalmente no parlamento federal. Ele se serve muito bem há décadas com subsídios.
Obter um projeto de lei ambiental no Congresso é, portanto, uma questão difícil. Veja a ‘Lei Kandir’ de 1996. Essa lei em benefício do agronegócio garante que nenhum imposto de exportação seja pago, por exemplo, da soja para Europa e China. Isso significa que a soja brasileira é a mais barata do mundo, pois desde 1962 não há cobrança de taxa nos portos europeus. Kandir também estipula que o agronegócio não deve pagar impostos sobre agrotóxicos. Consequentemente, veneno abundante pode ser pulverizado de aviões. Sobre os campos, mas também sobre escolas, áreas residenciais, etc. Veneno que é frequentemente produzido na Europa (também na Bélgica), mas que não pode ser utilizado na agricultura da União Europeia. Pode ser exportado, por exemplo, para o Brasil.
O mesmo agronegócio pressionou fortemente em setembro. Por exemplo, várias organizações de representação e também grandes cooperativas do agronegócio no estado de Santa Catarina escreveram uma ‘Carta Aberta’ aos eleitores no dia 2 de setembro. Nesta carta, falam muito sobre “democracia”, mas são os primeiros a corroer essa democracia. A carta foi assinada pelos presidentes de todos os departamentos do agronegócio catarinense (incluindo Aurora-Coop e outras 9 organizações). Ao trio do presidente Bolsonaro ‘Deus-família-pátria’ eles acrescentam liberdade. O tom da carta é discretamente fascista, já que o mesmo negócio tornou a vida do governador de Santa Catarina um inferno, quando o mesmo sinalizou mexer nos imposto sobre agrotóxicos. Não, temos a liberdade de injetar veneno de graça!
No Brasil dizem: “Bolsonaro domina a cabeça deles”. A verdade do Messias é a sua única verdade. Eles o seguem sem discussão.
Luc Vankrunkelsven
(Interlocutor da Fetraf nas relações Brasil e Europa. É autor de 11 livros traduzidos ao português sobre a relação Brasil-Europa)