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Formação para novas utopias

”Eu acredito, mas não quero e posso acreditar sozinho”

Há tempos deixei de ser o ‘chato’ que só falava da necessidade de estudar. Entre as razões: o isolamento por parte de alguns, o não bem quisto por parte de outros, o doutrinador pelos oponentes ideológicos, o chato pelos preguiçosos e inimigos da leitura, o filósofo negador do lattes por que aqueles que veem neste a ferramenta de um orgulho vazio. E por último, apontado como o ‘teórico’ pelos revolucionários da ortodoxia de um fragmento ‘clichê’ da obra de Marx: ‘’o que havia para pensar foi pensado, o que interessa é a transformação do mundo’’.

O ponto de partida, emerge deste último, porque ‘’meus iguais’’ de utopias de outrora e revolucionários de uma falsa e frágil autossuficiência (e ainda agora) fracassaram em partes – deixaram de pensar e fraquejaram na transformação desta realidade. O comodismo fez-se revolução deste tempo – o que suscita novas provocações. Sim, a prática é o critério da verdade como dissera o mestre Marx, mas a prática sem a compreensão da teoria como filha ‘cativa’ da ação é um negar-se a possibilidade de afeiçoar e aperfeiçoar processos, esterilizando assim potenciais avanços. Ou seja, é fundamental que possamos mergulhar nos acúmulos teóricos, de concepções, por serem estes resultados da ação, compreensão e de algum modo, formação do sujeito histórico e todo tecido social.

Compreender a realidade a qual estamos inseridos requer aprofundar-se, inteirar-se, problematizar para apresentar viés de mudanças – do contrário, permanecemos no campo dos achismos, naquela metáfora da lagoa de sapos, onde todo mundo ‘coacha’ alguma coisa. Digo isso, porque trabalhando assessoria de formação, palestras há muitos anos, compreendo algumas questões como centrais, provocativas e necessárias as entidades, organizações, de modo especial, as sindicais, onde tenho pisado o terreno com mais solidez e posso dizer: – É preciso estudar mais!
Não estudar por estudar, para cumprir o mote do ‘tarefismo’ que tomou conta de nossos espaços. Estudar para compreender estes novos tempos e agir sobre a realidade com mais conhecimento de causa e menos desperdícios de energias, com poucos ou nenhum resultado. Porém, submeter-se a isso não exige o que muitos equivocadamente chamam de sacrifícios. Exige sim, adesão, sentimento de necessidade, pertença do sapiens, postura de humildade para dispor-se a relação de crescimento mutuo. – A transformação só pode emergir de um tecido social fortalecido, do contrário se rasgará nas fragilidades de uma composição pouco coesa.

As organizações sociais precisam repensar suas agendas de formação, metodologias (convencionais ou da educação popular), mesmo aquelas que sempre deram certas, pois não significam que ainda possam responder as questões de nosso complexo momento. Já ouvi em alguns lugares que oficinas com tarjetas são formas ‘moderninhas’ de educação popular com pouco resultado. Confesso, me assusta ouvir isso de quem trabalha na organização pedagógico de centros de referências na educação popular e movimentos, como ouvi este ano. Para mim, é o típico pensar de quem reproduz a lógica corporativista do escolasticismo acadêmico. Nada contra a academia, mas não é dela que precisamos essencialmente neste momento, e não trato aqui de teoria em quilos/toneladas – trato da justa medida, aquela que leva formação de massa – quadros é outra coisa e diga-se: não foge da nossa necessidade.

O filósofo Francis Bacon disse: ‘Saber é poder’ – e é sim! – Tanto é, que aqueles que acusam lideranças importantes deste país de ‘burros’, ‘analfabetos’, ou então, que ainda consideram o agricultor o ‘jeca tatu’. Ou na mais ousada negação do poder da sabedoria, chamam Paulo Freire de idiota por um lado, e por outro, militam no elitismo da estupidez para acabar com qualquer processo de educação popular que vise uma formação para consciência de classe – cite-se aqui, a mentalidade do governo federal sobre escolas, universidades e institutos federais. Se eles visam esterilizar, é porque veem resultado, o que por si só, tem que servir-nos de compreensão e convencimento. De ser os espaços de formação das entidades fundamentais para um novo ciclo de processos metodológicos, visando o fortalecimento de nossas lutas, a renovação de lideranças, reoxigenação dos processos, renovar de utopias e iluminar os dias que virão.

Findo este ano convicto do quanto aprendi nas andanças de centenas, milhares de quilômetros percorridos, e quanto ainda precisamos avançar. – Eu acredito, mas não quero e posso acreditar sozinho. – Que o ano novo nos coloque primeiro no compromisso de dizer o que queremos, não apenas para nós. E junto a este, quanto de energia, tempo e necessidade ofereceremos na construção daquela sociedade – mais humana e equitativa que desejamos e precisamos. Do contrário não haverá Natal, ao menos, não o dá justiça que almejamos e muito menos, aquele Natal do ‘menino Deus’ que vem ao mundo para enfrentar os poderosos!

Prof. Neuri Adilio Alves
Assessor de formação e elaboração na Fetraf-SC

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