Por Luc Vankrunkelsven*
Na ‘Oca do Sol’, há muitas teias de aranha penduradas entre as árvores nesta época.
O nosso trabalho é tecer teias globais. É por isso que precisamos viajar de vez em quando, porque somente com a internet não chegamos ao nosso objetivo. E sim, há muitos anos que, globalmente, a internet tem tido a mesma quantidade de emissões de gases de efeito estufa que os aviões. Não que eu vá defender o uso excessivo de aviões, mas com os muitos aplicativos da Internet (pense Spotify e Netflix (1)), de qualquer forma também estamos longe da meta de redução.
No Brasil, desloco-me de uma ilha de mudança para outro lugar de conversão. Certa vez escrevi em um livro que seria melhor chamar esses lugares de ‘Oásis’. Oásis para sobreviver ao deserto que está aumentando assustadoramente.
Fazer conexões internacionais entre esses oásis é o meu trabalho e o de muitos outros.
Por exemplo, tecendo fios de teias entre universidades e movimentos sociais ou entre a embaixada belga em Brasília e o que vive na base na Bélgica e no Brasil.
Recuperação
Muitos trabalham na recuperação. Considere o renomado fotógrafo Sebastião Salgado. Ele herdou um grande pedaço de pasto totalmente erodido no nordeste árido do Brasil e, em 1999, fundou o ‘Instituto Terra’ (2). Ele conseguiu reflorestar essa área, não com eucaliptos e pinus (o que comumente é chamado de reflorestamento no Brasil), mas com a diversidade de espécies arbóras da região. Dois milhões de árvores! Ou pense na ‘Oca do Sol’. Ela está situada em um terrenos totalmente degradado nos arredores de Brasília. Um empreiteiro havia feito terraplanagem em todo área, para seus materiais de construção.
Bem, muitos anos depois disso, é um paraíso onde plantas, árvores, pássaros e aranhas se encontram. E também pessoas: grupos de pessoas em ação, reflexão e formação. Ontem, 1o de maio, em uma apresentação teatral durante a celebração do dia do trabalho, eles integraram a urgência de proteger 100 nascentes. Uma chamamento para reduzir o concreto e o aço e, assim, assegurar o abastecimento de água de Brasília. As nascentes na Serrinha são cruciais para o futuro da capital.
Anteontem, visitamos o ‘Planeta verde’. Esse local também era uma grande área de pasto. Agora é um paraíso onde os papagaios e as pessoas se encontram.
Um quarto das terras agricultáveis estão degradadas a tal ponto que nada mais cresce. Com agricultura regenerativa, podemos reverter a maré, afirma o professor de agroecologia Pablo Tittonell, em Wageningen: “Você restaura o solo e, com isso, você armazena mais carbono, retém água, a biodiversidade retorna e você melhora a saúde das pessoas. É uma situação vantajosa para ambas as partes, que se prolonga indefinidamente”.
Trabalho em rede
Dentro de alguns dias, viajo para Pirenópolis. Lá você tem muitas iniciativas, tais como ‘Oca da Terra’ (3), um centro de permacultura (4) e muito mais. Para não mencionar ‘Wervel’. A partir de 2001, por exemplo, ‘Wervel’ começou a tirar o pó dos sistemas agroflorestais (5). Agora isto está sendo gradualmente adotado pelo governo de Fandres, Bélgica, e estamos contribuindo na construção de uma Rede Europeia (6). As iniciativas brasileiras podem nos inspirar, ainda que os sistemas agroflorestais sejam um desafio mais fácil neste clima tropical do que no clima do noroeste europeu.
Depois de Pirenópolis, sigo de ônibus para Barreiras, no oeste da Bahia. Depois, com outro ônibus noturno para Salvador da Bahia e Recife, etc. Cada um desses destinos envolve universidades entrelaçadas com movimentos sociais, que defendem um mundo diferente. Contra a corrente dominante do avanço do rolo-compressor de soja e outras destruições.
Desde 2010, Wervel vem tentando colocar o Cerrado na agenda da Europa, com nosso grupo google internacional de acadêmicos e ativistas, com nossa página no Facebook ‘Viva Cerrado’, por meio do Twitter e de nosso website em inglês (7). Acima de tudo, não se esqueça de assinar nosso Manifesto do Cerrado!
Vamos ser aranhas na teia global…
Brasília, 2 de maio de 2022.
(1) Veja minha crônica ‘Contato físico versus contato virtual: um dilema?’ no livro: “Um mundo de escravidão oculta. Impressões ao longo do caminho”.
(2) https://institutoterra.org/
(3) https://coepi.org.br/oca-da-terra/
(5) https://wervel.be/actueel/boslandbouw-in-de-lift/?mc_cid=8f53c3ca88&mc_eid=8345259771
(6) https://euraf.isa.utl.pt/welcome
(7) https://cerradoteam.wixsite.com/cerrado
*Luc Vankrunkelsven é ecofilósofo, escritor e ativista belga, apaixonado pelo Brasil e pelas causas da Agricultura Familiar.